sexta-feira, 23 de abril de 2010

A Carta I

“Em três meses, a boca não conhece as frases que me perseguem e da coragem de chegar, o corpo lembra-se do teu jeito em garras e vontades”.

Escreverei em tua raiz cores que só teu nome pode ler...

E foi no mês de abril que hospedamos nossos recém adquiridos três meses...Abril de nossas chances merecidas... Reza a lenda que, abril seja derivado de Aprus, outro nome da deusa do amor Vênus e que com ela venha à crença de que os amores nascidos em abril são para sempre...

Em três meses, uma vida transborda no ventre de uma mãe, é quando o feto embarca na formação das pálpebras que protegerão seus globos oculares, olhos que um dia esvaziarão a caixa de retratos, que admirarão a dança de um corpo sobre o outro, olhos que estarão pelas ruas observando lugares reconhecidos em cartas que leio agora.
Em três meses, este mesmo feto reconhecerá os sons maternos da respiração, dos batimentos cardíacos e da voz. Escutará o choro misturado a gargalhada de um coração que esquece as contagens.

Em três meses, viajantes atrevidos conseguiram dar a volta ao mundo desbravando cenas de todos os caminhos. Encaixotaram seus medos e partiram em direção à liberdade dos pés, eles andavam por todos os lugares fazendo de seu lugar de origem a infinitude de todos os sonhos.

Em três meses, um escritor consegue gerar um livro, e durante os três meses que se seguirão ele apertará sua obra como quem aperta a um parafuso, sua obra lhe responderá com a castidade de um começo e os novos leitores serão para ele como travesseiros doces.

Em três meses, um cadáver já tem parte dos ossos tomados pelo pó da terra, e o corpo padecido na inexistência agrega-se ao solo, talvez na pouca claridade dos gemidos e choro dos que ficaram imersos em saudade chegue um recomeço...

Em três meses, estreitamos laços com novos amigos e aprendemos a dividir confidencias que há três meses atrás não imaginaríamos contar...

Só não sei dizer ao certo, qual é o processo que a mente e o corpo sofrem durante um amor de três meses... Talvez, seja pouco e muito o bastante para o amanhecer tímido das dobras da felicidade. Neste caso específico, três meses foram o passaporte para ditar a entrega e o grande amor que a cada dia vira enredo de todos os meus versos, dos meus textos e de minhas reticências que quando com você, pedem sempre mais.
Nesses meses, abandonei a militância de meus poemas para tomar partido de dedicá-los a você, foi então que abri antigas prisões amputando meu medo diante de nosso amor solto.
Três meses, e eu a te amar em toques, dedos e poemas. E nesta confusão de calendários e tempos eu expus meus acenos no teu jeito de andar, no teu corpo parado e no meu, tombando sempre em direção ao teu, e a cada beijo nasceram cidades imaginárias, heróis líquidos e raízes que me alimentam do teu gosto... E quanto a mim, só posso te pedir que repare bem a hora, porque o meu tempo está faminto de atravessar todos os calendários e fazer desses três meses múltiplos de três em três...
Nem mesmo assim, conseguirei vencer este gostar cravado que afronta meu bom senso e viola minha identidade. Nem assim, os braços serão sóbrios quando enlaçados aos teus... Porque ainda não inventaram a paz merecida para esta luta dentro do peito, briga onde mãos calejadas têm a voz viva para dizer que o amor venceu.
Hoje, quero decorar minha insanidade com artifícios que andam ao contrário, com o gosto trôpego que explode na boca e com o inverso de todos os caminhos, já que é exatamente assim que esse amor nos toma, evidenciando alívio na contramão da multidão, passando por cima de fugas flexíveis, contrariando quem nos julga para soterrar nossas culpas.
Sem culpa, teimo em te amar, e faço desse amor um vício e meu sustento.Porque já não existem conflitos em teu colo.
Hoje, teu nome é minha balsa e eu não possuo mais moradia, o que habita em mim é a palavra, e a palavra tem um pouco de você e poesia.

Te amo.

domingo, 11 de abril de 2010

Firmei teu corpo dentro dos olhos, avancei por tuas coxas repletas de segredos e prendi o ar a cada toque. Fitei teus olhos, poesias ligeiras guardadas em antigos cadernos, passei adiante, rabiscando em teu ventre a espera do movimento dos meus versos, desenterrei desculpas para fazer prosas, tua língua em minha boca e a palavra é tua.
Abracei tuas mãos como quem alonga grandes universos até gerar esse amor, trazendo doçura, beijos e poemas, ali, teus pêlos como ímãs juntam-se aos meus, os contornos do teu corpo gravados em minhas notas por mero acaso.
Tua boca fez-se espelho transbordando em novos beijos. E as mãos entrelaçadas em nossa certeza.
Enquanto dormia, te amei com todos versos possíveis, repousei minhas letras e flores na nudez de teu corpo e te amei ainda mais, dedilhei este amor em trilhos soltos e em acrobacias de uma felicidade que viaja por todos os caminhos da tua nuca suada.
Teu rosto sereno cintilante em um sorriso semi aberto e eu a te achar linda como a um caminho único.
Tive vontade de emoldurar a expressão do teu rosto enquanto burlava os pecados da tua pele.
Nosso lugar de origem é aquele em que não sabemos aonde começam os gemidos e a febre, eles costuram-se entre si como foliões atrevidos que invadem lençóis e todos instantes de nossas veias. Porque te amar é sinônimo de sátira, folhas pra cima, sexo esguio, entrega em cacos de vidro, mão na mão, mãos na boca, mãos nas curvas da cintura, mãos nos seios, mãos dadas e a desculpa pra nossos delírios. Te amar queima no ar, implode os sentidos, cresce e me sabota a cada dia, deixa a boca seca quando longe, umedece os lábios quando pousas em mim.
E assim, vou constatando a cada beijo, a cada contato um misto de leitura inédita dos espaços preenchidos em nós, e eu preciso de você para atravessar praças públicas e dizer a que viemos, definir nosso lugar por entre as escadas de nosso livramento.
Amar você hoje impulsiona meus pés de encontro ao início de nossa loucura.