quarta-feira, 26 de maio de 2010

Sobre Ela

Meus gestos úmidos repousam sutilmente a maldade de meus dedos como quando desejo que os mesmos dedos nunca me deixem te perder de vista. Minha voz em esperança tem palavras ao teu carinho, e quando a boca encosta-se à tua, a voz cala em uma guerra vazia.
Na guerra, te ofereço estes olhos cheios de segredos e meus braços ao redor dos teus tornam-se as únicas testemunhas de nossas profundezas.
Não sou sua dona, mas teu sangue lateja em meus ossos presos por cadeados, não sei a origem de teu nome, mas quando falo sobre você a boca procria sorrisos e a sede desse teu perfume me amolece a ferida.
...
Ela tem um calor que não passa, e me passa as mãos com fervura branda. As coxas têm vontade própria e o suor sagrado escorre como fontes de um conflito imaculado.
Devagar, seu corpo fala e a palavra desentoca de suas dobras como prece. Viro peregrina de sua pele...
Nos olhos habitam milhões de esferas que se derretem ao sabor de danças, na íris, vai mostrando aos poucos nuances da identidade mulher.
Quando dorme, passo as noites em claro tentando desvendar seu gosto enquanto a cada dia reinventa novos sabores que meus lábios dedicados acatam.
Na extensão de tua nuca, vou escalando os motivos para ficar e vou seguindo entregue, sem espaço para cura, silenciando a tontura que tua presença me causa.

sexta-feira, 23 de abril de 2010

A Carta I

“Em três meses, a boca não conhece as frases que me perseguem e da coragem de chegar, o corpo lembra-se do teu jeito em garras e vontades”.

Escreverei em tua raiz cores que só teu nome pode ler...

E foi no mês de abril que hospedamos nossos recém adquiridos três meses...Abril de nossas chances merecidas... Reza a lenda que, abril seja derivado de Aprus, outro nome da deusa do amor Vênus e que com ela venha à crença de que os amores nascidos em abril são para sempre...

Em três meses, uma vida transborda no ventre de uma mãe, é quando o feto embarca na formação das pálpebras que protegerão seus globos oculares, olhos que um dia esvaziarão a caixa de retratos, que admirarão a dança de um corpo sobre o outro, olhos que estarão pelas ruas observando lugares reconhecidos em cartas que leio agora.
Em três meses, este mesmo feto reconhecerá os sons maternos da respiração, dos batimentos cardíacos e da voz. Escutará o choro misturado a gargalhada de um coração que esquece as contagens.

Em três meses, viajantes atrevidos conseguiram dar a volta ao mundo desbravando cenas de todos os caminhos. Encaixotaram seus medos e partiram em direção à liberdade dos pés, eles andavam por todos os lugares fazendo de seu lugar de origem a infinitude de todos os sonhos.

Em três meses, um escritor consegue gerar um livro, e durante os três meses que se seguirão ele apertará sua obra como quem aperta a um parafuso, sua obra lhe responderá com a castidade de um começo e os novos leitores serão para ele como travesseiros doces.

Em três meses, um cadáver já tem parte dos ossos tomados pelo pó da terra, e o corpo padecido na inexistência agrega-se ao solo, talvez na pouca claridade dos gemidos e choro dos que ficaram imersos em saudade chegue um recomeço...

Em três meses, estreitamos laços com novos amigos e aprendemos a dividir confidencias que há três meses atrás não imaginaríamos contar...

Só não sei dizer ao certo, qual é o processo que a mente e o corpo sofrem durante um amor de três meses... Talvez, seja pouco e muito o bastante para o amanhecer tímido das dobras da felicidade. Neste caso específico, três meses foram o passaporte para ditar a entrega e o grande amor que a cada dia vira enredo de todos os meus versos, dos meus textos e de minhas reticências que quando com você, pedem sempre mais.
Nesses meses, abandonei a militância de meus poemas para tomar partido de dedicá-los a você, foi então que abri antigas prisões amputando meu medo diante de nosso amor solto.
Três meses, e eu a te amar em toques, dedos e poemas. E nesta confusão de calendários e tempos eu expus meus acenos no teu jeito de andar, no teu corpo parado e no meu, tombando sempre em direção ao teu, e a cada beijo nasceram cidades imaginárias, heróis líquidos e raízes que me alimentam do teu gosto... E quanto a mim, só posso te pedir que repare bem a hora, porque o meu tempo está faminto de atravessar todos os calendários e fazer desses três meses múltiplos de três em três...
Nem mesmo assim, conseguirei vencer este gostar cravado que afronta meu bom senso e viola minha identidade. Nem assim, os braços serão sóbrios quando enlaçados aos teus... Porque ainda não inventaram a paz merecida para esta luta dentro do peito, briga onde mãos calejadas têm a voz viva para dizer que o amor venceu.
Hoje, quero decorar minha insanidade com artifícios que andam ao contrário, com o gosto trôpego que explode na boca e com o inverso de todos os caminhos, já que é exatamente assim que esse amor nos toma, evidenciando alívio na contramão da multidão, passando por cima de fugas flexíveis, contrariando quem nos julga para soterrar nossas culpas.
Sem culpa, teimo em te amar, e faço desse amor um vício e meu sustento.Porque já não existem conflitos em teu colo.
Hoje, teu nome é minha balsa e eu não possuo mais moradia, o que habita em mim é a palavra, e a palavra tem um pouco de você e poesia.

Te amo.

domingo, 11 de abril de 2010

Firmei teu corpo dentro dos olhos, avancei por tuas coxas repletas de segredos e prendi o ar a cada toque. Fitei teus olhos, poesias ligeiras guardadas em antigos cadernos, passei adiante, rabiscando em teu ventre a espera do movimento dos meus versos, desenterrei desculpas para fazer prosas, tua língua em minha boca e a palavra é tua.
Abracei tuas mãos como quem alonga grandes universos até gerar esse amor, trazendo doçura, beijos e poemas, ali, teus pêlos como ímãs juntam-se aos meus, os contornos do teu corpo gravados em minhas notas por mero acaso.
Tua boca fez-se espelho transbordando em novos beijos. E as mãos entrelaçadas em nossa certeza.
Enquanto dormia, te amei com todos versos possíveis, repousei minhas letras e flores na nudez de teu corpo e te amei ainda mais, dedilhei este amor em trilhos soltos e em acrobacias de uma felicidade que viaja por todos os caminhos da tua nuca suada.
Teu rosto sereno cintilante em um sorriso semi aberto e eu a te achar linda como a um caminho único.
Tive vontade de emoldurar a expressão do teu rosto enquanto burlava os pecados da tua pele.
Nosso lugar de origem é aquele em que não sabemos aonde começam os gemidos e a febre, eles costuram-se entre si como foliões atrevidos que invadem lençóis e todos instantes de nossas veias. Porque te amar é sinônimo de sátira, folhas pra cima, sexo esguio, entrega em cacos de vidro, mão na mão, mãos na boca, mãos nas curvas da cintura, mãos nos seios, mãos dadas e a desculpa pra nossos delírios. Te amar queima no ar, implode os sentidos, cresce e me sabota a cada dia, deixa a boca seca quando longe, umedece os lábios quando pousas em mim.
E assim, vou constatando a cada beijo, a cada contato um misto de leitura inédita dos espaços preenchidos em nós, e eu preciso de você para atravessar praças públicas e dizer a que viemos, definir nosso lugar por entre as escadas de nosso livramento.
Amar você hoje impulsiona meus pés de encontro ao início de nossa loucura.

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

A Louca e a Farpa

E você já não pode imaginar os limites das palavras de minhas esquinas. Elas pertencem à respiração de meu corpo estranho numa combinação de ventos disparados e ruídos de goles de vinho em teus ouvidos cheios de mundos e anseios. Tampouco, poderia eu adivinhar a tinta de teus desenhos, ali mora um limite, como se fosse teu país de rotas e frutas perdidas.
Não preciso de voz ou ouvidos para entender teu grito. E é com teu jeito que meu corpo tomba, travando em teus olhos um mosaico de vontades atentas.
Então, te aceno um poema de palavras soltas para cada uma entrar por dentro de teus pêlos, invadindo braços, pernas e nuca, como se assim, eu pudesse furtar o desejo de escorrer a essência de teu perfume.
Tola, recorto em teu corpo a sensibilidade desta ternura e carrego minha forma de dizer as coisas até saber que nome isso tem. Talvez, você tenha permitido a veracidade desta passagem que agora, sussurra teu nome calmamente. Uma gestação de certezas que deslizam minhas coxas em tua alma. Um eco em meus cílios para teu milagre de luz e som.
Às vezes penso, que daqui a diante seremos a louca e a farpa sangrando até o final com um sorriso para calar o espaço inútil dos que não conhecem nossos braços entrelaçados.
Em volta, as pessoas são pálidas, cobrindo de ignorância a felicidade e nós, deslocamos a perplexidade das repercussões que nos lançam.
Insanamente, esta é nossa realidade. E eu já não sei abrir mão desse desejo e gostar intenso, ainda que ninguém nos escute, bastando que saibamos que cresce como um grito por dentro dos corredores, caindo por cima de todas as carnes, desnudando o mundo que costura nossa pele.
Tudo se cala porque nosso carinho completa a voz.

sábado, 23 de janeiro de 2010

Das Batidas Cardíacas

"As pernas cruzadas se confundem, resumia cada assunto que se encontrava no peito dela”.

Um ritmo íntimo e forte aliado à desculpa de ouvir as batidas cardíacas da boca. Valia o risco do pulmão inflado, as mãos e as facas, apenas querendo colar os ouvidos no peito e sentir pulsar o som mudo da essência do perfume de seus cabelos.
Confunde os números tolos alternados ao sorteio de contar as batidas de um minuto, de zero a cento e cinquenta só para voltar a recontar e pendurar meus olhos pálidos na moldura de mais um poema para lhe dedicar.
E você sabe o que há dentro da minha boca quando nossas línguas aceleram as batidas mútuas de um só peito.
Eu lancei minha voz em seus ouvidos desejando ser estúpida e conflitar em teus abismos sem palavras. Talvez a minha voz sussurrasse que te adora baixinho enquanto a minha mão afagasse teus cabelos como quem afaga notas musicais.
A verdade é que janeiro nunca esteve tão tomado pela liberdade que cola nos ombros.
E eu quis que você amadurecesse enquanto vejo o que seus olhos não alcançam, mas tua imaturidade são fogos de artifício que penetram e me fazem ter medo de que um dia você cresça muito, talvez, a permissão de nossa felicidade recuasse no instante em que você crescesse acima dos meus restos de ingenuidade.
E por algum motivo que já nem sei, preservo os sinos dos teus pés infantis e faço parte das tuas cirandas, beijando-lhe o rosto, a testa e fazendo de minhas unhas enredo para participar de tuas traquinagens.
Por vezes, o teu silencio me atinge a nuca e me queima as mãos, mas daí, teus olhos me dão o caminho de tua íris e eu leio frases completas antes de cada piscar e conseguimos juntas compartilhar batidas cardíacas inteiras assim como aquelas músicas que pensamos ter sido escritas para nós. Abro todas elas como quem abre antigas prisões.
E é quando leio tuas batidas que perco o medo de nossos acusadores atrofiados.
Confirmo todos os dias que é na morada dos olhos que teu corpo fervilha.

sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

Absurdo Pagão

Tenho enfraquecido o silencio. Já você, é dona de um calor que sopra minha saudade e abana esta minha solidão.
Há dias, carrego pelo corpo o tamanho desta doença que agora tem suor frio. Desculpo-me dos beijos e dessa consciência de não poder querer aquietar-me na transparência de quem se quer.
Pensei ter superado o desejo destas flores de um inferno que nem sei. Mas este peito sempre foi livre de preconceitos e rótulos dispensáveis a cada vez em que você me beija.
Nem Pai, filho ou espírito santo poderia julgar aquele beijo, não havia pecado.
Fomos consumidas por nossas bocas que não sabiam estar longe e até o próprio Deus saberia nos entender tamanha vontade de que nosso pecado fosse perdoado.

Não tive medo de nos verem e nos julgarem. Tive medo do teu rosto mudar a expressão e de que em algum momento onde eu piscasse os olhos você se preparasse pra sumir.
Ainda não consigo entender o porque me desculpo se em cada traço dos seus olhos existe uma ordem natural das coisas que não sei de onde veio e pra onde irá.
Apenas marquei teus pontos fracos, gravei teus detalhes sórdidos, o movimento da tua boca falando coisas banais, e do teu corpo pressionando delicadamente o meu quando quer fazer amor, o cheiro dos teus cabelos que talvez eu nunca tenha conhecido, as mãos com as unhas vermelhas de um sangue iluminado, o teu carinho absurdo pagão.

De tudo que mora em você gostaria que me abraçasse por todos os caminhos e talvez um dia que, falássemos que nosso carinho não é exigência, é uma necessidade interminável de espetar nossa liberdade.

Quando carícias encontram dois corpos nos perguntamos da veracidade de qualquer doença e constatamos que a doença está em não saber o tamanho do mundo de movimentos frágeis e calados.

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Impermeáveis

Mofo. Deixando somente a raiz mais firme. O único instante do qual nada penso. Desbotando memórias em um vazio condicionado. Exercício de desvencilhar o passado. Fico olhando os pedaços visíveis e me sinto uma estranha em suas novas linhas, nem me encontro nelas ou te reconheço nos versos.
Seria uma linguagem pra eu achar meu caminho de volta? Porque eu já não sei estar desprovida desta frieza que percorre meus olhos enquanto te leio. As retinas ali, paradas em grandes proporções de silencio.
E nós dois que éramos feitos de presença passamos a morar dentro do invisível. Na superfície banal do que ficou pra acontecer. Sem tato ou máximos sofrimentos.

De tempos em tempos, esqueço as dúvidas dos passos que nos trouxeram até aqui só pra constatar que ainda consigo compor uma poesia com aquele mesmo amor-vício.
Mas de tudo que leio hoje, e das notícias que recebo sobre você constato também nossa grande miséria dentro do labirinto de nossos ombros.
Hoje, este meu semblante vazio confirma que nós dois éramos poesias impermeáveis.