quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Língua Morta

Fui escrevendo por suas entranhas e em todas as paredes as coisas guardadas na imobilidade do silêncio. Humano ao extremo, declamei mentiras de minha própria autoria. Preenchia a lacuna de quem não sabe a verdade. Uma quietude muda que sabia calar até meu desprezo.
Nos corredores, um fio de voz por dentro do corpo. A língua roxa e um tom grave querendo sair da boca, um arranhado entre os dentes constatando esta existência orgulhosa.
Na linguagem dos olhos, novo labirinto surdo, um abismo misturado com poesia e veias arrebentadas.
Coberto de palavras e o pescoço envolto em cordas. Os versos fizeram-se língua morta.
Seu medo no meio do caminho paralisou minhas palavras como quem toma posse de arames. Estagnei, recém apodrecido enquanto meus papéis flutuavam. Escrevi mais este outro desejo inacabado.
Sentia latejando entre as bochechas o gosto de uma água vazia. Os lábios adivinhavam a melancolia me rasgando os braços.
As pupilas gesticulavam dentro do peito. Sangrei até o final da voz que velava a lágrima.
O som estava a um passo de reinventar uma mudez incomparável.
Dentro do silencio, o homem acorda e leva consigo o abismo surreal entre as palavras e o muro.

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